terça-feira, 29 de setembro de 2015

Mais Uma Vez, MÃE


Um dia, encontrei, em uma esquina da vida, uma criança chorando.
Parei. Quis saber a razão. Entre soluços ela disse: "Perdi minha mãe".
Outra vez, num abraço demorado com um amigo, em um velório cheio de saudade, ouvi os mesmos dizeres: "Perdi minha mãe".
Em um hospital, acolhi uma amiga, ainda em prantos, com a notícia do médico impotente: "Perdi minha mãe".
Nossa trajetória, neste mundo, é assim. Apesar disso, é difícil nos acostumarmos com as despedidas. Ouvi, em uma apresentação de uma criança com risos e bailados, a conversa emocionada de duas professoras. Quis saber. Elas explicaram: "A mãe dessa menina acabou de morrer de câncer, ainda não a avisamos". Olhei para a menina envolta na dança simples com as sapatilhas, presentes da mãe. Com o coque de cabelo que aprendeu a fazer com a mãe. A menina olhava para algum lugar distante, talvez em busca da mãe.
Histórias tristes, há aos montes. Mas há as alegres, também. O colo bom. Os dedos entre os cabelos e uma ou outra história com voz que é bela pelo jeito de dizer. E os cuidados. As broncas. A reza. O beijo de boa-noite e o abrir das cortinas. As preguiças. As farras.
Há histórias incompreensíveis, também. Filhos que, por alguma razão, não dizem o que deveriam dizer. Abandonam. Nos asilos por aí, há mães que - incompreensivelmente - morreram para os seus filhos. Eles têm outras ocupações. Não querem saber de problemas. E lá ficam aqueles brancos cabelos com pouco cuidado, e aquelas histórias tantas engasgadas de silêncios. Não há ninguém para ouvi-las!
Há filhos que enriquecem de dinheiro e empobrecem de sentimentos. E têm vergonha da mãe. Da mãe simples, que não teve muita instrução, que talvez fale demais, que talvez peque pelos modos não tão sofisticados. E tentam elas explicar o inexplicável: "Eles são muito ocupados".
Mãe. Eu tenho a minha. Linda! Conta-me histórias e cuida de mim. Cuidamos um do outro. Cada um em seu tempo. Cada um a seu modo. Chora as perdas do passado.(...) Faz planos para o futuro. Ficar perto de mim, sempre. Relembrar o quanto fomos felizes quando estávamos todos. Hoje, são outros que frequentam os nossos afetos. Mas nós continuamos juntos. Falando. Ouvindo. Silenciando.
O amor é assim. E, de mãe, é mais bonito ainda.

Texto de Gabriel Chalita
 

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